segunda-feira, agosto 16, 2004

Voltas

Engraçado. Quando escrevia apenas para lembrar, escrevia mais. Agora que escrever tornou-se uma necessidade, fico negligenciando a tarefa. Não acho uma explicação para isso, o fato é que não é novidade. Não posso falar por todo mundo, mas parece que o ser humano prefere adiar o máximo possível aquilo que precisa fazer. Talvez diante da possibilidade de um momento de maior inspiração no futuro (no fim o único estímulo acaba sendo a urgência), ou numa explicação mais cômoda, na esperança de que adiar um compromisso faça com que ele se resolva sozinho.

Lembro que na faculdade tinha todo o tempo do mundo para me preparar para as provas. Com o profundo desejo de ser um aluno aplicado e responsável, me programava para estudar antecipadamente quando uma prova mais complicada surgia no horizonte. Não era uma programação do tipo "me engana que eu gosto". Era algo genuíno. Lembro-me até de retirar os livros da biblioteca umas duas semanas antes e cancelar outros compromissos com a desculpa do "preciso estudar". Eu queria mesmo me preparar adequadamente para as avaliações mas... A verdade é que sempre surgiam mil-e-uma distrações inadiáveis e chegava a implacável "véspera da prova" sem que eu tivesse estudado uma página sequer. Como diz aquele 'ditado', só se aprende a nadar quando a água bate vocês sabem onde. Nessas situações eu sempre fazia uma de duas coisas: ou passava uma terrível noite acordado, tentando aprender em algumas horas o conteúdo de semanas de aulas, ou dizia pra mim mesmo "se você não estudou/aprendeu isso nos últimos quinze dias, não vai ser agora que vai fazê-lo". Esta última opção, infelizmente, era a mais prática e confesso que optei por ela boa parte das vezes.

Talvez seja só eu, mas a impressão que tenho é que muitas vezes vivemos como se tivéssemos todo o tempo do mundo, como se sempre existisse um depois. No entanto, como o tempo não pára, chega um momento em que começamos perceber que cada dia a mais é mais um dia a menos, e aquele sentimento de urgênia que ao mesmo tempo almejamos e ignoramos por tanto tempo, passa a dirigir nossas ações. Imagino que isso seja uma das características trazidas pela maturidade. Fazer agora o que precisa ser feito agora, porque depois haverão outras coisas que precisarão serrem feitas. Preocupar-se mais com aquilo que realmente importa e não ocupar o tempo com distrações tão supérfluas quanto efêmeras. Porque os ponteiros do relógio dão voltas, mas diferentes de outras voltas, essas voltas vão, mas não voltam mais.