segunda-feira, agosto 09, 2004

Escrevendo

A letras me perseguem. O primeiro contato que tive com elas foi com uma Bíblia ilustrada, cujas histórias minha mãe contava. Depois disso, não me lembro quando ou porque resolvi ler por conta própria o primeiro livro, sequer me lembro qual foi. Só sei que tomei gosto e a leitura tornou-se um hábito. Cheguei ao ponto de manter uma lista de tudo que já tinha lido. Em parte graças aos livros, tive uma adoslescência tranqüila, sem muitas turbulências. Claro que, na escola todos me olhavam num misto de estranheza e admiração pelo fato de eu freqüentar bibliotecas, mas nunca liguei muito pra isso.

Não demorou muito e as pessoas a minha volta começaram a sugerir que eu deveria também escrever. Sinceramente, eu nunca entendi porque. Não sei bem qual a relação entre ler e escrever. Aliás, eu sofria muito nas aulas de redação. Eu sabia como tinha que ser um bom texto, mas isso não significava que eu tinha condições de produzir um. Para piorar, uma das professoras que eu tive nos obrigava a escrever uma redação por aula. Eu não gostava muito disso, porque acho que todo ato criativo deve ser espontâneo. O fato é que contrariado e sem inspiração eu martelava umas trinta ou quarenta linhas no papel apenas para cumprir a tarefa. E para minha surpresa, a professora adorava e elogiava muito. Para mim isso era sinal de incompetência e essa professora não gozava muito do meu conceito por causa disso.

Por insistência do meu pai, resolvi arriscar-me na poesia. Escrevi algumas que uma das minhas irmãs transformou em música. Aliás, dar melodia às palvras para mim se tornou a união do útil ao agradável. E compor algumas músicas foi tudo o que fiz nos anos de faculdade, quando minha leitura se resumiu a bits e bytes.

Hoje, de perseguido pelas letras, passei a persegui-las. Estou experimentando algo inédito: vontade de escrever. Lembro-me de uma frase do filme Mudança de Hábito 2, mais ou menos assim: "se você acorda pensando em cantar, passa o dia inteiro cantando e não pensa en outra coisa, então você é um cantor". Não, não tenho a pretensão de me considerar um escritor, sou apenas alguém que escreve. Escrever tem se tornado uma necessidade para mim. Preciso liberar espaço na memória, e dar lugar a outras idéias. Escrevo por que preciso. E precisar não implica em saber fazer. Estas letras são apenas um exercício de uma necessidade. Um brincadeira levada à sério, mas como toda brincadeira sem compromisso nenhum.