terça-feira, abril 25, 2006

Considerações sobre perda

O que é ter? O que é perder? Tenho pensado a respeito. E os comentários do post anterior lançaram novas luzes ao tema. A idéia que o originou e, talvez eu tenha falhado ao transmiti-la, é que se alguém não se importa em perder é porque na verdade nunca teve aquilo que perde. Sendo esse "não se importar" o que eu chamaria de a arte da perda. Mas, volto a perguntar: O que é perder? O que é ter? Claro, estou falando aqui de pessoas, relacionamentos. E nessa esfera, seria ter um sinônimo de amar? E sendo essa amor verdadeiro, pode-se chamar a separação - por qualquer que seja o motivo - de perda? Mesmo quando separados carregamos ainda no peito a lembrança e a intensidade de um sentimento que nem distância, nem tempo, e talvez, nem a morte conseguem apagar? E se o sentimento sobrevive, ter-se-á mesmo perdido algo? Perder é não ter? Não ter é estar longe? longe do coração amado? Não sei, e como costumo dizer, já não tenho respostas. Só sei que há um momento em que o ter se torna ser, quando o sentimento se apega de tal maneira a alma que esta já não o é sem ele.

Alguém diz: "Toda dor vem do desejo de não sentir dor". Concordo, mas penso que não é só isso que move a alma. A alma sabe que não há alegria sem sofrimento. O que a alma quer é uma dor que valha a pena, um preço justo que ela possa pagar por aquilo que imagina ser felicidade. A alma não rejeita a dor, muito menos as lágrimas. O que a alma se recusa é sofrer em vão ou sem saber quando ou quanto basta, ou ainda mais, se receberá ao final os louros da vitória. Pois uma vez que se experimenta o sabor da alegria, como a define Lewis, alma nenhuma mede esforços para obtê-la. Mesmo que seu valor seja inestimável e que o coração tenha já gasto toda sua fortuna tentando alcançá-la.

Por duas vezes nesta vida foi-me dada a escolha. Quando garoto e quando homem O garoto escolheu a segurança, o homem escolheu o sofrimento. A dor de agora é parte da felicidade de então.

Esse é o trato.

6 comentários:

  1. Anônimo3:06 PM

    Tipo eu to com uma fita aqui digamos q assim um inicio de um relacionamento mal resolvido por nois embora resolvido por DEUS, esse texto me ajudou a refletir.
    principalmente a frase final...
    Paz

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  2. Anônimo8:33 PM

    Nossa, que saudade que eu estava destes posts longos. "O que a alma quer é uma dor que valha a pena" Concordo com esta frase. Penso que a perda nunca é fácil de superar, é sempre difícil abrir mão de algo que amamos e dolorido tbm...
    Saudades de vc amiguinho, ando cheia de trabalhos e provas, mas logo logo estarei mais "folgada".
    bjinhos :o)

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  3. Anônimo1:15 PM

    não sei falar sobre dor. não sei falar sobre sofrimento. não sei falar sobre perda. poderia aqui fazer um esforço para identificar alguns pontos importantes na perda, mas não consigo. no meio cristão, há uma certa apologia ao sofrimento. discordo. mas, devo admitir, perder pode servir para alguma coisa. abraços, Aline

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  4. Ora, Joseph, que belo post! Já estava aborrecido pelo seu aparente abandono aos temas tristes e dolorosos, feito este.

    Esse sim tá agradável de se ler, parte filosófico, parte não...só não choro porque estou ocupado agora, mas talvez eu o faça depois.

    :)

    Maroldi; é, aquele mesmo.

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  5. Belo post José. Eu tbm acho q a alma não rejeita a dor , mas ela quer uma dor que valha a pena. É muito ruim descobrir que não valeu a pena. bj grande.

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  6. José, venho pensando nesse seu post há dias... acho que numa relação de amor, ter significa ver nos olhos do outro o brilho das estrelas, no sorriso do outro uma alegria intensa, na lágrima do outro a sua dor, nas mãos do outro o amparo e o prazer.. e perder significa o oposto a tudo isso.

    Penso que, se tratando de pessoas, ninguém tem ou perde ninguém, ninguém pertence a ninguém.. O que existe é uma troca, onde um pouco do outro nos preenche e nos completa e um pouco de nós preenche e completa o outro, e por menor/maior tempo que seja, nessa troca ninguém perde nada!

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