I've got a wound that doesn't heal
Burning out again
Burning out again
...
My wound goes deeper than the skin
There's no hiding it
So I'm not trying it
terça-feira, outubro 18, 2005
sexta-feira, outubro 07, 2005
Espelhos
O homem ficou ali parado, suspenso, com os olhos marejados como quem quer chorar mas já não tem mais lágrimas, vendo o pai afastar-se indiferente como, deduzo, fizera a vida inteira. Assistindo à cena, me ocorre que aquele homem ali, sozinho, apesar dos seus mais de trinta anos não passa de um garotinho inocente esperando o pai voltar de uma longa viagem para poder abraçá-lo. Mas ele não vai voltar. Nem tampouco vão todos os outros que ele ousou chamar de pai, numa doce tentativa amarga de preencher aquele espaço vazio que o define, de reclamar para si o que era seu de direito, mas a vida por algum motivo lhe negara o que o fazia querer ainda mais.
Ali, parado, a dor maior é saber que ele pode conquistar o mundo, pode se tornar o melhor marido do mundo para alguma mulher, o pai que quisera ter tido, o amigo que só se encontra em histórias, mas toda vez que ouvir o nome, toda vez que, por menor que seja, uma circunstância lhe trouxer a lembrança de um daqueles momentos, ele sabe que seu coração vai se desmanchar no peito, batendo forte, dolorido, sem jeito. Ele sabe que vai se perguntar porque e por mais que encontre explicações, por mais que consiga tudo o que puder, por mais que seja, ainda assim se sentirá furtado, ainda assim se sentirá incompleto.
Olhei novamente e o homem ainda estava lá, com uma das mãos carinhosamente apoiada no vidro da janela numa última tentativa de alcançar, numa última tentativa de tocar. E assim permaneceu, até que o avião desaparecesse como se nunca tivesse estado lá. Só então ele virou-se para ir. E antes de dar o primeiro passo, ele suspirou profundamente. Seus olhos brilhavam quando abriu um alegre sorriso triste como que dizendo que mal podia esperar pela próxima vez. E se foi, como se nada tivesse acontecido.