quarta-feira, junho 05, 2013

A arte de esquecer o inesquecível

Como é que se Esquece Alguém que se Ama?

Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está?
As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguem antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar.
É preciso aceitar esta mágoa esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si , isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução.
Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha.
Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado.
O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar.

Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'

segunda-feira, junho 03, 2013

Fernando Pessoa

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de *dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar

Recebi de alguém especial, que me conhece em alguns aspectos, melhor do que eu, mesmo sem me conhecer...

sexta-feira, abril 26, 2013

"And what would be the point of living if we didn't let life change us?"
Charles Carson, Dowton Abbey

sábado, abril 20, 2013

Amar você, amor, às vezes é abraçar a solidão.

quinta-feira, março 28, 2013

Já nenhum debate perturbava-lhe a mente. Ele agora conhecia todos os argumentos do desespero e não estava disposto a lhes dar ouvido.
J. R. R. Tolkien em O Retorno do Rei

sexta-feira, fevereiro 22, 2013

May the road rise up to meet you...

May the road rise up to meet you.
May the wind be always at your back.
May the sun shine warm upon your face;
the rains fall soft upon your fields and until we meet again,
may God hold you in the palm of His hand.
 traditional gaelic blessing

quinta-feira, setembro 27, 2012

Espanha a pé

Eu viajava para descobrir o que me faltava...

Seria esse também o motivo pelo qual lemos? Imagino que sim. Espanha a pé, o relato de uma caminhada solitária de Marcelo Masson Maroldi é um livro de viagem, mas não é um livro de viagem qualquer ou desses que estamos acostumados a ver por aí. Mais do que uma viagem pela bela Espanha, ao abrirmos o relato da épica caminhada somos convidados a uma viagem pela alma humana, aquela que sente, pulsa, questiona, se supera, segue em frente, emociona-se e emociona, toca e deixa-se ser tocada. O livro é um diário dos 42 dias que Marcelo passou caminhando de Cádiz até Finisterre, um percurso que totalizou 1353 quilômetros, boa parte ele percorreu sozinho, enfrentando não apenas a solidão, mas também o frio, a chuva, caminhos mal sinalizados e claro, o cansaço físico. Mas a caminhada de Marcelo é tudo menos solitária, pois ao acompanharmos sua história somos levados juntos por cada trecho do caminho e podemos sentir cada frustração, cada expectativa e cada descoberta. Tanto que o autor afirma, logo depois de uma conversa com um senhor de 80 anos: "Eu já não caminhava mais por mim". Ao compartilhar cada passo de sua jornada, não apenas através do livro, que será lançado dia 13 de outubro, mas também por um blog e por uma página do Facebook, Marcelo caminha por todos aqueles que sentem vontade de colocar o pé na estrada, por todos aqueles que querem mais do que a vida nossa de cada dia oferece e trilham, mesmo sem sair do lugar muitas vezes, o caminho do autoconhecimento.

E a beleza da jornada, não está apenas nos belos lugares retratados nas fotografias, mas também, e principalmente nos muitos encontros com personagens improváveis. São pessoas simples, mas cheias de vida. A maioria deles são breves, mas não por isso menos intensos. E o autor consegue tirar de cada um desses encontros beleza e tocar o leitor da mesma maneira que se deixa tocar por essas pessoas que oferecem ajuda e compartilham suas histórias. Como o próprio autor bem coloca, são pessoas que ele jamais voltará a ver, mas que ganham vida nas páginas do livro e nos deixam com a vontade de estar lá para poder compartilhar, seja um sorriso, um abraço ou ainda uma lágrima.

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Posted via email from scrapbook

segunda-feira, janeiro 02, 2012

Resoluções

Fiz apenas uma resolução formal em 2011. Que era ler ao menos 2 livros por mês. Quase cheguei lá, acho que faltou um livro, mas relaxei durante o ano e li alguns livros 'maiores', outros em inglês, o que diminui um pouco o ritmo. Enfim, dizem que resoluções são feitas para serem esquecidas e/ou abandonadas antes do Carnaval. Gosto dessa proposta de tentar organizar a vida no princípio do ano, mas não farei resoluções para 2012. Continuo querendo ser uma pessoa melhor e isso, por si só, já é uma resolução para a vida toda. Quero também escrever mais, aqui pelo menos. Faz um tempo que venho pensando nisso, mas a tarefa já não vem naturalmente. Nos bons tempos deste blog, era uma necessidade colocar para fora, dar voz a alguns sentimentos. Hoje, menos. Parece que algo foi perdido ou superado. Escrever também é sentir, e talvez seja esse o objetivo maior. Resgatar aquela intensidade inocente, encontrar nova inspiração e viver... mais. Por hoje é só!

domingo, novembro 20, 2011

Sad songs, one more time

Novas adições à coleção:
  • Someone like you e Don't you remember da Adele
  • Let it be me de Ray LaMontagne
  • You know where I'm at de Gavin Degraw
A qualquer momento podemos voltar com mais do mesmo.

sexta-feira, julho 15, 2011

Para se pensar

Não tiro ninguém da minha vida. Apenas reorganizo as posições e inverto as prioridades.